Depois das inundações causadas pelos efeitos do aquecimento global e da MORTE, o mundo inteiro assistiu sistemas de saúde entrar em colapso. Só que isso já era notícia de ontem aqui no Bronx. A gente já vivia na merda bem antes disso, Omae. Por aqui, se você morre, o máximo que sua família (se tiver uma) pode esperar é que alguém te aponte o lugar onde largaram seu corpo. E acredite em mim, esses são os casos onde as pessoas decidem ser prestativas.
Acho que talvez seja por causa dessa nossa realidade que Lenna não tenha chorado tanto quando foi avisada de que Charles estava morto e esperando por ela em uma sarjeta qualquer perto do mercado do estádio. Como eu disse, alguém viu o corpo e foi legal o bastante para descobrir se o defunto tinha alguém que pudesse dar alguma importância para seu corpo em decomposição. Ou talvez o fedor estivesse apenas incomodando demais, vai saber.
Seja como for, foi nesse momento que ela decidiu me ligar. E foi nesse mesmo momento que eu dei o primeiro passo para dentro de uma situação que ainda ia me afundar na mais completa merda.
Se importar com algo além de si mesmo é uma das formas garantidas de morrer, Omae. Anote essa dica, ela pode te poupar muita dor de cabeça.
“Eles disseram que foi overdose, dá para acreditar? Logo o Charles?” Lenna disse, engolindo o choro. Eu odiava como seus olhos claros podiam me fazer ficar sem jeito. alguma coisa nela e no falecido irmão me lembrava que eu ainda tinha uma consciência. Charles tinha o mesmo olhar e foi assim que acabamos namorando por quase dois anos.
“Não, isso não está certo. Não faz nem sentido, pelo menos não para quem o conhecia.” Concordei. Me passou pela cabeça se devia ou não dizer a ela que Charles havia me ligado na noite anterior a seu desaparecimento. Duas coisas me impediram. A primeira, eu havia decidido ignorá-lo. Nosso término não foi dos melhores. A segunda, ele estava realmente surtado. Não disse nada com nada e só o que eu consegui entender era que ele queria me dar um “furo” jornalístico, mas que ninguém mais podia saber que ele era a fonte. Nem mesmo Lenna.
Alguns acham engraçado pequenos jornais ainda existirem por aí, especialmente quando gigantes da mídia dominam as atenções pela DATANET, mas ainda tem uns idiotas que acreditam no verdadeiro jornalismo. Aquele que se preocupa com a verdade, com os fatos e não com a grana que a notícia irá render.
Sim, eu sou uma dessas idiotas.
“Eu não posso deixar que isto fique assim, por favor. Eu sei que você e Charles tiveram seus problemas, mas ele não merece ser tratado assim. Ninguém vai sequer investigar a morte dele!” O choro que Lanna finalmente soltou me trouxe de volta à realidade.
Ela tinha razão. Charles passou a vida sendo um sujeito decente. Ele não merecia ser enviado para o além dessa maneira. E eu não ia deixar.
Ele tentou me alertar para alguma coisa importante. Uma coisa que o levou àquela sarjeta no mercado. Eu ia descobrir a verdade por trás de sua morte.
Se isso vai ser perigoso? Pra caralho. Mas eu sou uma boa jornalista e como meu pai costumava dizer, um bom jornalista sempre pode contar com os seus contatos.
Micro conto ambientado no cenário de rpg Interface Zero.
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