Bruno já não aguentava mais aquilo, precisava colocar um ponto final naquela relação. Claro, no começo tudo era maravilhoso, mas hoje ele percebia o quanto havia se deixado enganar pelas aparências. Sua mãe sempre lhe dissera “Não julgue um livro pela capa”, mas ele havia lhe dado ouvidos? Claro que não.
Agora, sentado em um pequeno café, olhando para frente com determinação, ele juntou toda sua coragem e disse:
— Sinto muito, não posso continuar com isto. Acho melhor terminarmos as coisas por aqui e cada um segue para seu lado.
Seu livro o encarou, perplexo. Sim, livros podem parecer bem perplexos quando querem.
— Mas, pensei que você gostasse de mim. — O livro disse. — Elogiou minha capa, minha diagramação… até te deixei me cheirar lá na livraria!
— Olha, eu sei… — Bruno notou, contrangido, que duas garotas sentadas na mesa ao lado começaram a olhar para eles. — Vamos falar mais baixo, ok?
— Acha que eu deixo qualquer um me cheirar no primeiro encontro? Acha que sou esse tipo de livro? — O livro o ignorou e ergueu ainda mais o som da voz, ultrajado.
Bruno não sabia onde enfiar a cara. Agora, todo mundo no café olhava para sua mesa. Um dos garçons que trabalhava ali até começou a filmar com o celular.
— Fala mais baixo, por favor. — Ele voltou a implorar.
— O que? Você quer terminar comigo sem nem ter chegado na metade da história, mas não quer que ninguém saiba disso? — O livro continuou, ficou de pé e bateu na mesa. — É isso mesmo, amigos! Aqui temos um leitor que sabe honrar seus compromissos com os livros que leva para casa!
— Ora, mas também não é assim. — Bruno se indignou. — Não é como se toda a culpa fosse minha! Você é uma história arrastada e muito chata.
O livro fechou sua capa com um sonoro “PLAFT!”.
— Ah, então é isso, não? — Perguntou com um tom baixo e muito gelado.
— Sim… digo, não. — Bruno tentou se recompor. — Olha, não é que sua história seja ruim. Acho que ela só não é o meu estilo, entende?
— Você está terminando comigo com o famoso “Não é você, sou eu”???
— Por favor, não torne as coisas mais difíceis do que já são. Eu também estou sofrendo, sabe?
Um silêncio muito constrangedor tomou conta dos dois. Então, muitos minutos depois, o livro se pronunciou.
— É a Netflix, não é? Você vai me trocar pela série que fizeram da minha história na Netflix.
— Olha, eu…
— AH, MAS EU NÃO ACREDITO! — O livro berrou e bateu na mesa mais uma vez, desta vez derrubando os cafés.
— É só que todo mundo está elogiando bastante a série e… — Bruno tentou explicar.
— Todo mundo??? Todo mundo quem, Bruno? Eu vou te dizer o que todo mundo está cansado de saber! TODO MUNDO SABE QUE O LIVRO SEMPRE É MELHOR DO QUE A SÉRIE!
— Bom, eu acho que desta vez a Netflix acertou. Sabe por que? POR QUE EU NÃO DURMO NO MEIO DA SÉRIE.
Depois disso, mais três horas de discussão tomaram conta do pequeno café. E quem pode julgá-los? Às vezes é muito difícil dar um fora em um livro, não é?
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