A voz na floresta

— Mate quem macula o exército de Deus com o pecado!

Gawen repetia as palavras que o anjo havia lhe dito naquela noite enquanto tentava quebrar as defesas de Orson.

— Você é uma vergonha para nossa irmandade! — Orson golpeou, errando Gawen por um gosto do acaso.

Um chute firme no joelho fez Orson cair. A espada de Gawen estava pronta para matar. O grito de uma mulher o trouxe para fora do frenesi. Pela primeira vez se perguntou por quê estava lutando.

— Acordem seus idiotas! — A mulher ralhou. Uma estranha autoridade emanava dela. — Um espírito qualquer da floresta lhes diz que é um anjo e ordena que matem um ao outro e é isso que basta para derrubar o exército do Senhor?

Gawen olhou à sua volta. Podia ver outros de seus irmãos ainda lutando. Como aquilo tinha acontecido? Se lembrava de beber água no riacho, da luz no céu e da voz… Tão bela que só podia ser um anjo. Ela lhe pedira para matar quem maculava o exército Templário com o pecado. Mas agora que estava fora do transe de antes a vergonha recaiu. Eles haviam retornado de mais uma guerra na terra santa. Talvez nem Deus soubesse de todos os pecados cometidos ali.

— A bruxa está livre de sua jaula… — Orson disse, finalmente de pé. Olhava para a mulher. — Nós devíamos…

Gawen o ignorou. Se voltou para a bruxa.

— Você me impediu de matar meu irmão. Não sei como o fez, mas vai salvar também os demais.

— E por que acha que vou ajudar? — A bruxa perguntou.

Gawen guardou sua espada.

— Porque posso ser um tolo que ouve qualquer espírito da floresta, mas não sou cego. Vi o medo nos seus olhos quando entramos aqui. Você também quer sair e se pudesse fazer isso sozinha não teria nos ajudado. Agora vamos logo acabar com esta viagem.

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