Que os espíritos decidam

Midori sentiu o peso da maleta em sua mão direita. Como uma coisa com menos de dez quilos podia pesar tanto? Talvez fosse o peso que aquilo colocava na sua consciência, pensou. Escolhas possuem peso e consequência, era o que sua irmã Maya vivia lhe dizendo. Ela sempre desconsiderou o que lhe parecia o charlatanismo xamânico de sua irmã. 

Mesmo que a fé dela estivesse correta, Midori não tinha escolha. 

Os cientistas precisavam estudar o comportamento do vírus na maleta e o tempo que a burocracia levaria para estender o experimento a cobaias humanas simplesmente não era o suficiente para salvar os poucos que já tinham a vida em risco por causa daquela doença. Se nada fosse feito, os doentes iriam morrer. 

Maya iria morrer. 

Os empregadores de Midori estavam dispostos a infectar uma parte pobre da cidade para poder estudar o vírus em um ambiente sob controle, já que eles e outras mega corporações já estavam prontos para “auxiliar” no isolamento daquele bairro quando o surto chegasse a mídia. “É pelo bem maior.” foi o que ouviu de seus chefes e era o que a mercenária continuava a dizer a si mesma. 

“Pelo bem maior. Pela ciência. Pela cura… por Maya”. Mesmo assim, Midori não conseguia fazer as pazes com sua escolha. Talvez tenha sido por isso que deixou informações sobre sua operação vazar na Matrix. O mais provável é que já fosse tarde para alguém tentar impedi-la, mas a verdade seria descoberta com o tempo. Ou talvez os tais “espíritos” que Maya seguia iriam guiar as pessoas certas para os dados vazados e alguém surgiria para impedi-la. Fosse qual fosse o resultado daquela missão, ela tinha feito o que Maya vivia lhe pedindo: “Tenha fé nos espíritos, irmã”. 

Agora ela tinha jogado a bola no campo deles. Se os espíritos realmente existiam e se importavam, alguém iria aparecer para detê-la.

Alguém tinha que aparecer.


Gosta do que escrevo e quer apoiar o blog? Jogue uma moeda para seu storyteller!

Processando…
Sucesso! Você está na lista.

Deixe um comentário