Os olhos do urso encararam Yella com fúria selvagem e a criatura avançou. A bárbara não ficou surpresa com sua velocidade, apenas aqueles que não viviam ali eram tolos o suficiente para não saber que um urso branco das montanhas uivantes era um oponente tão veloz quanto era forte.
Ela esperou e abaixou no momento exato em que as patas do urso cruzaram, tentando destroçar sua cabeça. Yella rolou para o lado e, quando viu o flanco da criatura desprotegido, arremessou sua lança de caça.
A arma tinha uma corda firmemente amarrada no cabo e ela segurou a outra ponta da corda com toda sua força usando uma mão. O urso rugiu de dor quando a lâmina perfurou suas costas e correu, puxando Yella no processo. Ela aproveitou o ímpeto e pousou nas costas do animal já com sua faca na outra mão.
O sangue espirrou no rosto de Yella quando sua arma encontrou o topo da cabeça do urso. O animal urrou e tentou se livrar dela, mas era tarde demais.
O golpe havia sido perfeito e letal.
Quando terminou de coletar carne e pele de sua presa, a bárbara olhou para o céu noturno e suspirou quando viu neve cair. Uma tempestade se aproximava e ela teria que encontrar um abrigo.
— Hoje você encontrou o seu destino e eu vou me atrasar para o meu. — Ela disse para o urso morto enquanto recolhia suas coisas. — Não que eu esteja muito animada para escutar o que os deuses esperam de mim.
Sem perder mais tempo, ela deixou a carcaça do animal para trás e começou a procurar por uma caverna onde pudesse se proteger da tempestade.
Naquela noite outras jovens como ela estariam reunidas no salão dos anciões, prontas para descobrirem o que os sábios revelariam sobre o futuro delas.
Yella já tinha uma boa ideia do que eles iria lhe dizer, a aldeia toda sabia. Casar com Orghen “lâmina mortal” e liderar seu povo ao lado dele era uma honra.
E no entanto, nada a convencia de que o seu destino estava muito longe dali.
Yella soube que estava sonhando quando viu o corpo do dragão branco preso no esquife de gelo. Aquele era o corpo da grande rainha de gelo, a rainha dragão Beluhga.
Ninguém sem algum tipo de proteção mágica poderia se aproximar daquela criatura magnífica sem congelar. Mesmo morta, apenas a presença dela era o suficiente para manter o clima gelado das montanhas uivantes.
— Este lugar é muito maior do que o que ouvi nas histórias. — Yella observou assombrada o tamanho colossal da caverna que servia de repouso para a rainha dragão.
— As histórias dos humanos quase nunca descrevem a realidade, criança. — A voz de uma mulher soou na cabeça dela e Yella levou a mão até o cinto, onde sua faca deveria estar, mas descobriu que seu sonho a deixara sem armas.
A caverna toda tremeu e a bárbara precisou de toda sua agilidade para não cair no chão. Mas quando o esquife de gelo à sua frente quebrou, libertando o corpo de Belugha, sua coragem falhou e ela gritou.
Só dois tipos de pessoas não temiam um dragão: Aquelas de grande poder e aquelas de grande tolice.
— Não é possível… — Yella sussurrou ao ver o corpo da rainha de gelo se mover.
O enorme dragão se aproximou até seu rosto ficar tão perto que Yella conseguiu enxergar seu reflexo nos olhos draconianos.
— Humanos raramente compreendem o que é possível ou não neste mundo, criança. — Belugha disse. — Não tenha medo, preciso que me escute com atenção.
As palavras da rainha de gelo soaram como uma ordem a ser obedecida e Yella deixou de tremer imediatamente.
Ela se ajoelhou e abaixou a cabeça.
— Sou uma filha das montanhas uivantes e sou sua serva fiel, rainha branca.
Belugha a analisou por instantes intermináveis antes de voltar a falar.
— Sim, você é a minha serva fiel e eu vou lhe revelar o seu destino.
Quando Yella retornou ao seu vilarejo a única evidência de que não tivera apenas um sonho qualquer era o enorme machado de gelo eterno que trazia em suas costas. Aquela era uma arma que somente uma verdadeira guerreira das montanhas uivantes podia carregar e a sua havia sido forjada por ninguém menos do que a rainha de gelo.
— Onde você estava? — Seu pai a encontrou na praça principal da vila acompanhado dos anciões e de um homem de cabelos brancos longos que parecia uma montanha de músculos ambulantes.
— Onde conseguiu esse machado? — Orghen “lâmina mortal” não deixou de notar sua nova arma.
Um dos anciões a encarou com óbvia desaprovação.
— Perdeu a noite da revelação do destino, criança. O que tem a dizer ao seu pai e ao seu noivo?
Yella encarou o ancião e riu.
— Ao meu pai eu vim apenas dizer adeus. Quanto ao meu noivo? Fique com ele se quiser. Não preciso de um marido e muito menos de suas revelações, ancião.
Murmúrios de desaprovação, indignação e até raiva chegaram aos ouvidos da bárbara, mas ela os ignorou.
— Filha, o que você está… — Seu pai parou de falar quando ela o abraçou e no momento em que seus olhos se cruzaram, ele deve ter visto a determinação em sua alma porque se calou. Sorriu e beijou sua testa.
— Minha rainha precisa de mim e eu vou cumprir o meu destino. — Yella disse a ele e então caminhou até sua casa, onde tinha uma mochila de viagem para preparar.
Orghen a encontrou nos limites da vila, o guerreiro a observou com uma expressão tranquila e até mesmo sorriu quando ela parou na sua frente.
— Não quis ofender você, mas o meu destino não está aqui. — Ela disse sem rodeios.
Ele deu de ombros e estendeu uma sacola cheia de provisões para sua viagem.
— Bom, o seu pode não estar aqui, mas o meu está. Vou liderar, com ou sem você.
Yella aceitou o presente dele e deu um soco amigável em seu ombro.
— Sei que será um bom líder.
— E quanto a você? Que destino misterioso é esse que persegue?
Yella considerou ficar quieta, mas sentiu que devia ao menos isso ao guerreiro.
— Você sabe o que é o coração de gelo? — Perguntou.
Orghen franziu os olhos, confuso.
— Nunca ouvi falar.
— Eu também não. — Yella foi sincera. — Mas preciso descobrir do que se trata e tenho que levá-lo até a rainha de gelo.
— Por que? — Ele quis saber.
— Porque Belugha ainda vive e o coração de gelo é a única coisa que pode despertar nossa rainha dragão. Ela precisa do coração e eu sou a sua guerreira fiel.
Olhando para o machado de gelo eterno nas costas dela, Orghen assentiu.
— Lâmina destinada. — Disse, por fim.
Yella compreendeu, ele havia lhe dado um novo nome de guerra.
Um nome que parecia ser perfeito para ela.
Ela era Yella “lâmina destinada” e tinha um trabalho muito importante a fazer.
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