Sonhos reais

Imagem gerada pelo midjourney

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  1. Parte 1: Um garoto com problemas
  2. Parte 2: Cavaleiros na minha porta
  3. Parte 3: Morgana me joga a real
  4. Parte 4: Eu sou Artur? (O outro, o rei importante)
  5. Parte 5: Claro que seriam os esgotos!
  6. Parte 6: De cara com Merlin
  7. Parte 7: Eu sou Artur (O garoto com sorte)

Parte 1: Um garoto com problemas

Um garoto de catorze anos não devia estar na rua sozinho, tentando fazer dinheiro para pagar as contas, especialmente não perto do anoitecer, mas Artur não tinha escolha. Desde que seu pai deu o fora alguns meses atrás, sua rotina depois da escola era a mesma: Andar até a região da Brick Lane, sentar em seu “posto de trabalho” e tocar sua gaita para tentar fazer alguns trocados ao lado de tantos outros artistas de rua por ali. Sua mãe, Ana Leith, trabalhava como enfermeira, mas só seu salário não dava conta de tudo. Qualquer coisa que pudesse fazer para ajudá-la era uma obrigação moral. 

Ele não seria o segundo homem da família a deixá-la na mão.

O fato dele depender de uma muleta para se locomover, graças a uma deformidade óssea de sua perna esquerda, ajudava a despertar empatia e apesar de odiar com todas suas forças os olhares de pena que recebia, isso o ajudava a ganhar uns trocados a mais e Artur não estava disposto a reclamar disso. Se Ana aguentava trabalhar três ou até quatro turnos seguidos, ele podia aguentar uma pontada de dor no ego.

Sua única companhia durante o “trabalho” era Zig, um velho pintor que vendia seus quadros e passava horas escrevendo histórias em pequenos cadernos de bolso. “Você toca com a alma, tem futuro!” O velho sempre lhe dizia, mas Artur nunca o levava a sério.

Zig e ele não passavam de dois pobretões tentando viver nas ruas de Londres. Zig pintava quadros com paisagens bucólicas, sempre colocando um tom de magia como fadas, duendes e essas coisas dos contos de fantasia que amava escrever ao passo que Artur tinha apenas sua gaita e sua voz. Ele tocava canções populares, blues, rock e até arriscava algumas adaptações de pop. Apesar de não ser dos piores cantores, ele sabia que estava muito longe de se tornar o próximo ídolo musical da nação.

— Droga, vai chover de novo! — Praguejou ao sentir a primeira gota de água cair em seus cabelos loiros. — No jornal disseram que a noite ia ser quente e seca!

Zig riu e o ajudou a pegar sua muleta no chão.

— Eu já disse para parar de acreditar nessas baboseiras. As pessoas perderam a confiança nos instintos e na magia! Quando acordei, senti o cheiro de chuva logo cedo! — O velho bateu na ponta do nariz com o indicador e piscou com o olho direito. — Antes de ir atrás do ônibus, leva esse presente aqui!

Meio atrapalhado, Artur conseguiu segurar o pequeno caderno que seu amigo escritor jogou na sua direção. Na primeira folha, escrita à mão, lia-se “As novas lendas de Artur, volume VI – Por Sir Zig de Nova Camelot”.

— Já conseguiu terminar mais um? Você escreve rápido demais. — Zig adorava recriar as famosas lendas arturianas, dando novas abordagens às histórias que Artur não cansava de ler. Ele também amava aquelas histórias e perdera horas na biblioteca pública lendo as mais variadas versões delas. Para ele, o conceito de cavalaria, empreitadas cheias de perigos e magia eram tudo o que não existia na sua vida, mas que existiam em seus sonhos. 

As histórias de Zig falavam sobre uma versão onde Artur não morreu e a Bretanha não caiu nas mãos de seus inimigos. Eram contos sobre magia e esperança e para Artur elas representavam algo mais, eram histórias que o salvavam da dor do abandono.

— Obrigado, cara! Você acabou de me poupar de uma noite tediosa!— Ele guardou o caderno no bolso da jaqueta, ajeitou seu peso na muleta e começou sua caminhada até o ponto de ônibus.

Com alguma sorte não se molharia tanto.

Pena que Artur ainda não sabia que a sorte estava bem longe dele naquele dia.


Parte 2: Cavaleiros na minha porta

No ponto de ônibus, como de costume, Carol já o esperava. A garota sorriu e ele sentiu o coração acelerar. Precisou se controlar para não imaginar, pela trigésima vez, como seria beijar os lábios grossos dela. Carol era a garota mais bonita e simpática que conhecia. Sua pele negra tinha também um leve tom avermelhado que o fazia se perder dentro de sua imaginação de vez em quando. Seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo naquela noite e ele sentiu o cheiro do shampoo de morango que ela gostava de usar tão logo sentou ao seu lado.

Quando o ônibus chegou, Artur se complicou um pouco para conseguir encaixar a muleta do lado do banco, mas ela não disse nada e nem fez o que outros costumavam fazer, lhe oferecer ajuda o tempo todo como se ele fosse incapaz de lidar com algo que fazia parte de sua realidade desde que nascera. Esse era outro fator que o fazia gostar muito da amiga de infância.

— Como foi o turno hoje? — Perguntou depois de se acomodar.

Carol morava perto de sua rua e também ajudava a pagar as contas da casa porque sua mãe faleceu dois anos atrás e agora ela vivia apenas com o pai, Jonas. A blusa de cor amarela listrada com o logo da lanchonete Zion era horrível, mas Carol conseguia ficar bonita até mesmo com o uniforme.

— Pesado, duas garotas faltaram e o salão lotou. — Ela mostrou uma pequena bolsa cheia de moedas e notas enroladas que escondia na mochila. — Mas as gorjetas foram ótimas. Acho até que vou conseguir comprar um vestido para o baile de inverno. Você vai?

Ela o espiou com os olhos castanhos que o faziam lembrar de um pote de mel e ele levou alguns segundos para perceber que precisava responder.

— Eu não tenho par, ainda não tive tempo de escolher uma sortuda dentre a fila enorme de candidatas. — Artur precisou rir para mascarar o nervosismo.

Por um segundo chegou a pensar que havia visto um traço de desapontamento no rosto da amiga.

Chama ela para ir ao baile, seu imbecil.

Ele queria muito fazer isso, mas sabia que um dos jogadores do time de rugby gostava dela e, perto disso, quais eram suas chances?

Carol não mencionou mais o baile e os dois seguiram o resto da viagem contando os altos e baixos de seu dia, como faziam sempre ao voltar para casa. A viagem foi marcada pelo boletim de pessoa desaparecida que Artur viu pendurado em uma das janelas do ônibus. Um garoto de quinze anos sorria para ele na foto e o cartaz anunciava “Luke Grim, desaparecido no dia 14 de Agosto. Vestia o uniforme da escola e uma blusa moletom verde”. Artur não deu atenção aos demais detalhes, mas não deixou de notar que com aquele a conta de jovens desaparecidos na região subiu para oito. 

O padrão era aquele, todas as vítimas eram garotos mais ou menos naquela faixa etária, todos moradores da região de Whitechapel o que acabou dando a alcunha ao criminoso, super criativa na opinião de Artur, de “Whitechapel”. Aquilo era alarmante e a polícia estava sendo cobrada por todos os lados para reforçar a segurança.

Claro, sua rua não fazia parte da lista de prioridades da polícia. Poucos se importavam com o pessoal que vivia em um parque de trailers sujo. Ao sair do ônibus Artur olhou para o único poste de luz que existia entre o ponto e a entrada do parque.

A luz estava apagada.

— Claro que sim, como não? — Aquela era a sétima vez só naquele mês. Para piorar, a lua não havia batido cartão e apenas algumas bravas estrelas combatiam o céu carregado de poluição para proporcionar alguma luz.

— É melhor a gente se apressar, a chuva logo vai chegar por aqui e eu só planejo me molhar quando estiver debaixo do meu chuveiro com água quente. — Carol comentou e os dois começaram a andar.

O som de metal arrastado no asfalto ligou todos os alertas dentro de Artur e ele lutou para não cair na tentação de olhar para trás. Se deu conta de que o que ouvia não soava, exatamente, como algo sendo arrastado. Eram passos, mas se assim fosse, a pessoa atrás deles devia estar usando algum tipo de bota com sola metálica. Artur gostava de coturnos, mas até para ele aquilo soava esquisito.

— O que diabos é isso? — Carol não teve a mesma força de vontade e olhou por cima do ombro. O que viu a fez gritar e tropeçar.

Artur tentou segurá-la, mas não foi rápido o suficiente e a garota foi ao chão.

Enquanto tentava ajudá-la a levantar, Artur viu pelo canto de olho dois cavaleiros correndo na direção deles.

Dois cavaleiros. De armadura, espada, escudo e até elmo. “Eu devo estar ficando louco.”

Artur cogitou a possibilidade de usar a muleta para se defender, mas o mero pensamento lhe soou patético. Atrás dele, o som de um grunhido animalesco o fez gritar e fechar os olhos.

O som de metal batendo em metal o forçou a abrir os olhos. Se deu conta de que os cavaleiros lutavam contra alguma coisa atrás dele. Ao olhar por cima do ombro, notou outro cavaleiro, de armadura escura, muito maior do que os oponentes e com olhos que brilhavam como duas esferas vermelhas atrás do elmo em sua cabeça.

O cavaleiro de olhos vermelhos não tinha escudo, mas segurava uma espada muito maior que a dos outros cavaleiros. Cada golpe dele libertava tanta força que o escudo de um dos cavaleiros começou a se partir ao meio!

— Saia daqui, meu rei! Nós vamos manter a cria de Merlin longe do senhor! — Um dos cavaleiros disse.

Artur não precisou de uma segunda ordem, com Carol de pé os dois deram as costas àquela loucura e seguiram na direção de seu trailer, que era o refúgio mais próximo para os dois. Suas mãos tremiam e ele derrubou sua chave duas vezes. Quando finalmente conseguiu abrir a porta, a fechou e ligou as luzes de sua “casa”.

— Que bom que chegou em segurança, Artur. O tempo urge e nós precisamos sair daqui. — Uma garota falou com ele. 

Artur se virou na direção da voz e ele se deparou com um par de olhos azuis que o encaravam sem piscar. A garota possuía um olhar forte e hipnotizante. Seus cabelos negros cacheados caiam livres até pouco abaixo da altura do ombro, emoldurando um rosto fino e de traços belos. Ela tinha uma pele branca e pálida que contrastava bastante com a armadura vermelha que recobria seu torso e parte das pernas. A armadura parecia ser feita de escamas de algum tipo de réptil grande, muito grande. Usava calças e botas marrom escuro de aparência gasta e uma capa cinza que completava o visual bizarro. Na mão esquerda, segurava um cajado de madeira e estendia a outra mão na sua direção.

— Quem é a princesa guerreira e como ela sabe seu nome? — Carol perguntou.

— Venham logo! — A urgência na voz da garota misteriosa tirou Artur de seu pequeno transe.

— Mas o que diabos?

Do lado de fora o som do grunhido do cavaleiro de olhos vermelhos fez o coração dele ir parar na boca. A porta do trailer foi arrancada sem esforço e a criatura tentou segurá-lo pelo braço. Carol jogou sua mochila na cara do monstro e depois chutou seu braço para longe dele. Aquilo não foi uma boa ideia. Enfurecido, a criatura segurou sua perna e a puxou para fora.

— Não! — Artur agiu sem pensar e simplesmente se jogou na direção do inimigo.

— Você perdeu a cabeça? — A garota de armadura o segurou pelo braço com um aperto de ferro e antes dele conseguir se desvencilhar, ela gritou. — Não tenho tempo para explicações, precisamos ir embora! Gaantir Nore Ark!

Sem entender uma só palavra dita por aquela desconhecida Artur assistiu, paralizado, sua realidade ser jogada fora quando um portal de luz azul se abriu diante deles e os engoliu.

Os gritos de Carol diminuíram até desaparecer, mas ele sabia que nunca os esqueceria enquanto vivesse.


Parte 3: Morgana me joga a real

Ao passar pelo portal, o rosto de Artur saudou um chão coberto de grama. Levantou, limpando as bochechas e cuspindo um pouco de mato para fora da boca. Conseguiu ver a muleta jogada perto de seu local de pouso e tratou de ficar de pé.

— Eu não sei o que você fez, mas vai me levar de volta. Agora! — Disse à garota que, diferente dele, tinha pousado de pé e com a graça de um atleta olímpico.

A floresta ao redor deles estava escura e muito silenciosa.

Da palma de sua mão direita ela fez surgir um pequeno globo de luz azulada que ficou flutuando ao redor deles, dançando ao ritmo de um som que Artur não ouvia.

— Bem vindo à Avalon, sua majestade. — A desconhecida ignorou sua raiva. — Ou ao que resta dela, pelo menos. E antes que exija retornar, me permita questionar, o que acha que vai fazer sozinho por sua amiga? Acredita mesmo que morto vai lhe servir de ajuda ou prefere me ouvir e ter uma chance real de salvá-la?

As palavras foram duras, mas incontestáveis e serviram como um tapa na cara dele. Contrariado, Artur engoliu o desespero e decidiu escutá-la. Por mais que não gostasse, ela tinha razão em uma coisa. Ele não tinha como salvar Carol sem ajuda.

— Você vai me ajudar a salvar minha amiga daquela criatura? Aliás, o que era aquela coisa? Por que estava atrás da gente?

— São muitas perguntas e temos pouco tempo para respostas. Nosso foco deve ser um só, preciso que você me ajude a encontrar Excalibur.

Olhando à sua volta, Artur deu de ombros, bateu nos bolsos de seu casaco e respondeu.

— Desculpe, você me pegou de surpresa e acabei esquecendo onde guardei minha espada mitológica. Só tive tempo de trazer minha inseparável muleta mágica. Eu ainda não tenho nenhum nome legal para ela, mas é um trabalho em progresso.

Os olhos azuis voltaram a encará-lo com aquela intensidade hipnótica e ele se viu obrigado a piscar algumas vezes para recobrar o foco.

— Acha que isto é algum tipo de piada? Pareço estar brincando?

— Não, você não parece estar brincando. — Artur disse e então gesticulou com a mão livre para tudo o que conseguia ver. — Só que tudo isto aqui parece algum tipo de pegadinha extremamente elaborada. E eu só quero que me mande de volta para casa porque a Carol precisa da minha ajuda!

A garota o encarou por um longo período. Foi aí que ele notou que ela nem ao menos piscava e isso, além de todo o resto, lhe pareceu muito esquisito.

— Então você é uma das versões que não se lembra da magia. — Ela disse após deixar um suspiro longo escapar pelos lábios. — Acho melhor sentar, temos muito sobre o que conversar. E antes que diga que não quer conversar, saiba que o que tenho a dizer pode fazer toda a diferença para a sobrevivência de Carol. Sabendo disso, vai continuar a choramingar ou prefere me ouvir?

Artur não queria ouvir nada, mas não sabia como sair daquela floresta esquisita e iria precisar da ajuda da garota que esperava sua decisão. Ele era a única pessoa que sabia que Carol estava em perigo e aquela maluca de armadura era tudo o que ele tinha no momento, jogando sua muleta no chão, deixou seu corpo desabar na grama. Sem a adrenalina gerada pelo susto e instinto de sobrevivência o cansaço do dia finalmente surtiu efeito nele.

— Tudo bem, eu vou te ouvir.

A outra assentiu e começou sua história.

— Meu nome é Morgana e preciso que você me escute com atenção. — Ela sentou de frente para ele. — Vou te contar uma história que irá soar como loucura, mas antes que me bombardeie com as inevitáveis perguntas que terá, peço que me escute até eu terminar tudo o que preciso dizer.

Sem ver muitas alternativas, Artur aceitou e Morgana falou.


Parte 4: Eu sou Artur? (O outro, o rei importante)

Morgana não mentiu quando disse que tudo iria soar como loucura. Seu relato falava sobre cavaleiros, guerras, magia e sobre o lendário rei Artur de Camelot. Segundo ela, as histórias que ele conhecia apenas como lendas do passado, eram reais e faziam parte do reino do sonhar. A floresta na qual conversavam fazia parte da ilha de Avalon e era capaz de viajar entre os mundos, forma pela qual ela havia sido capaz de encontrá-lo. Pensando bem, Artur decidiu, Morgana não soava louca. Era ele quem devia ter batido a cabeça e agora devia estar completamente insano.

— Te asseguro que você não está louco, Artur. — Morgana pareceu ler seus pensamentos. — O reino do sonhar comporta todas as coisas que vocês do mundo desperto acreditam ser apenas histórias. Para pessoas como eu, realidade ou sonho são a mesma coisa, apenas lados de uma mesma moeda. Transitamos livres entre sonho e realidade, carregamos a responsabilidade de manter a magia viva e lutamos para impedir que o caos da criação elimine tudo o que existiu, existe ou existirá.

— Então quer dizer que eu sou uma versão do rei Artur? Só que a versão dele que vive no mundo real? Mas ele não viveu a centenas de anos atrás? — Ele tentou absorver o que acabou de ouvir.

— A forma como vocês enxergam o tempo na realidade não faz muita diferença no reino dos sonhos. — Morgana explicou. — A mente dos despertos se conecta com nossas histórias em qualquer período do tempo. Não importa quanto tempo passe, duas coisas sempre se mantêm iguais. Os vivos morrem, os vivos sonham.

— Tudo bem, então eu sou o rei Artur e minha espada mágica foi roubada por Merlin? Ele não devia ser o meu leal mago real?

— Merlin pode ser muitas coisas, mas lealdade não é um de seus atributos. — Morgana riu sem humor ao ouvir sua pergunta. — Só o que interessa a ele é a jornada pelo despertar total da magia. Merlin acredita que o reino da realidade deve possuir tanta magia quanto o reino do sonhar e ele fará de tudo para que isso aconteça.

— E isso não seria algo bom? Acho que um pouco de magia seria muito bem vinda lá de onde venho, a vida é muito dura para alguns de nós.

— A vida é o que é, seja nos sonhos ou na realidade. Não nos cabe brincar de deuses com o que o destino oferta, Artur. Você precisa entender que o destino é inexorável, ele dá e tira sem fazer perguntas. No entanto, ele também nos guia e nos torna fortes. Diferente de alguns deuses, o destino não tenta nos impor nada, ele apenas nos apresenta as barreiras que precisamos ultrapassar para nos tornar aquilo que buscamos ser. Temos a liberdade de escolher o caminho a percorrer, mas toda jornada tem desafios que irão nos transformar. O destino é assim e isso é verdade, seja no mundo desperto ou nos sonhos. A magia é uma ferramenta poderosa, mas não foi feita para nos entregar tudo de mão beijada.

— Então qual é o ponto da magia existir se não podemos usá-la para facilitar nossa vida?

— Ela é uma ferramenta essencial do equilíbrio entre a realidade e o sonho. — Morgana disse e então criou duas esferas luminosas, uma em cada mão. — Dentre todos os conceitos que regem a criação, dois deles são supremos. A ordem e o caos, um não existe sem o outro. A criação em si não passa de um período de ordem em meio ao caos, um dia nosso tempo chegará ao fim e a ordem deixará de existir. Mas quando o momento certo chegar ela retornará e fará com que o caos desapareça temporariamente. Isso é o equilíbrio, isso é a verdade absoluta da existência.

— E o que acontece se Merlin tiver sucesso em despertar a magia no mundo desperto? — Artur quis saber.

— Pense na magia como um peso extra, um peso que pode mudar o equilíbrio que a criação possui hoje. Se Merlin despertar a magia em seu mundo isso vai mudar tudo, inclusive o equilíbrio. E quando isso acontecer… — Morgana fechou as mãos e as esferas de magia explodiram.

Artur não precisou perguntar o que aquela imagem muito auto explicativa significava.

— Foi por isso que ele roubou Excalibur e fugiu do reino do sonhar?

— A espada é uma das raras jóias da criação que guarda dentro de si uma das sementes da magia. Com ela Merlin será capaz de fazer com que o reino desperto seja banhado pelo poder da magia e o equilíbrio deixará de existir.

— E por acaso Merlim não percebe o tamanho da cagada que vai fazer?

— O ego dele não conhece limites, Artur. Merlim se enxerga como o mago supremo e acredita que será capaz de manter a magia intacta tanto no reino desperto quanto no reino dos sonhos. O pior de tudo, ele acredita que será capaz de unificar os dois em um reino só. Um reino utópico, uma nova e melhorada Camelot.

— E onde é que eu entro nessa história? — Artur levou as mãos à cabeça e massageou a testa para tentar afastar a dor de cabeça que toda aquela história estava lhe dando.

Morgana estalou os dedos e a bainha de uma espada se materializou em pleno ar e flutuou até ele. Era uma bainha simples, feita de madeira escura e marcada com o desenho de diversas runas. Uma delas se repetia com frequência e ele a reconheceu de imediato.

— Isso aqui é uma triquetra?

Morgana assentiu.

— A triquetra é o símbolo do equilíbrio. Sonho, realidade e magia. Essa é a bainha da Excalibur, a única capaz de conter seu poder. Toda vez que o rei Artur desembainhava Excalibur a lâmina consumia a energia da magia da criação para lhe conceder seus poderes. Usá-la tinha um custo e Artur sabia que cada vez que libertava sua lâmina um pouco da magia se perdia para sempre. Ele foi um rei sábio e raramente fez uso desse recurso, mas Merlin não possui tal sabedoria e a cada segundo que a Excalibur se mantém longe da bainha a criação corre o risco de perder a magia e o equilíbrio. Preciso encontrar a espada o mais rápido possível e você possui uma ligação mística com ela. Uma ligação que posso usar como uma bússola que nos guiará até Excalibur.

Olhando com atenção para o item em suas mãos Artur achou difícil crer que algo tão simples e de aparência tão frágil guardava tanto poder. Ele aproximou a bainha de sua cintura e ela se prendeu ao cinto de sua calça como que por magia.

— Você realmente acha que eu serei capaz de recuperar Excalibur? Não sou capaz de derrotar Merlin, se ainda não reparou não sou nenhum tipo de guerreiro super poderoso. — Ele apontou para sua muleta.

— Heróis vivem dentro de todos nós, Artur. Além do mais, nunca disse que iria enfrentar Merlin sozinho. Irei com você, mas como toda jornada do herói esta depende de um primeiro passo que só pode ser dado por aquele que o destino escolheu.

Morgana ficou de pé e esperou ele se levantar e recobrar o equilíbrio com sua muleta. Então, com outro estalar de dedos, um novo portal ganhou forma e ela deu o primeiro passo na direção dele.

— Vai se unir a mim nesta jornada? — O olhar hipnótico da garota procurou o dele.

Quantas vezes Artur se imaginou dentro de uma aventura como aquela? Inúmeras. Só que em nenhuma das vezes que sua imaginação o transformou em um herói o medo foi um elemento a ser considerado.

Ali ele estava no reino dos sonhos, mas se desse um passo na direção da trilha que o destino lhe ofertava, iria para a realidade. Iria enfrentar Merlim, arriscando sua vida no processo. O medo era real e o paralisava. Por outro lado, pensou, se toda aquela loucura realmente estava acontecendo, a alternativa seria se acovardar e abandonar Carol à sua própria sorte.

Exatamente como seu pai fizera com sua mãe.

Ele não sabia de muita coisa da vida e muito menos do mundo dos sonhos e magia. Mas possuía uma certeza em sua alma: Jamais abandonaria alguém daquela forma. Ele não era como seu pai.

Artur sentiu, pela primeira vez, que realmente tinha algo em comum com o lendário rei de quem herdara o nome. Tinha uma decisão dura e importante a fazer. Uma decisão de vida ou morte. Uma decisão capaz de mudar tudo, até mesmo o destino daqueles à sua volta.

Percebeu então porque diziam que o destino era inexorável. Sua decisão já estava tomada.

— Vamos encontrar Excalibur! — Ele respondeu e se uniu a Morgana.


Parte 5: Claro que seriam os esgotos!

Só depois de passar pelo portal e cair em uma imensidão multicolorida é que ocorreu a Artur que talvez fosse uma boa ideia fazer algumas perguntas.

—  Como posso usar minha ligação mágica com a Excalibur para te ajudar?

—  Preciso que se concentre no desejo de encontrá-la. Se seu desejo for forte e verdadeiro, o túnel da passagem irá nos levar até ela. — Morgana explicou e segurou sua mão.

Ele engoliu em seco.

—  E se o meu desejo não for forte e verdadeiro?

—  Vamos torcer para que seja!

Ótimo, estou em queda livre dentro de um túnel mágico e minha guia é uma coach otimista.

Artur nunca vira Excalibur fora de um desenho de revista em quadrinhos ou livro velho. Jamais vira uma espada na vida real, a não ser que pudesse contar as que os guardas reais utilizavam nos desfiles, como diabos seu desejo poderia ser forte e verdadeiro?

Tentou afastar seus medos para um canto bem longe da mente, apesar de qualquer dúvida, precisava ter sucesso. Carol precisava dele. Sua mãe precisava dele. Ele precisava acreditar em si mesmo, não era hora de ter medo.

Foi nesse breve momento de decisão e realização que um novo portal se abriu diante deles. Artur passou por ele e se estrupiou no chão duro e sujo. Morgana, obviamente, pousou ao seu lado com graça e ar de triunfo.

—  A Excalibur esta escondida dentro do esgoto? —  Ele perguntou, depois de recobrar sua muleta e ficar de pé.

As galerias de esgoto londrinas eram um lugar inconfundível, mesmo com a visão limitada que a luz provinda do portal fornecia. O cheiro também não era dos melhores. Morgana juntou as palmas das mãos e quando as afastou uma série de pequenos globos luminosos começou a flutuar por perto deles, mantendo a iluminação depois do portal desaparecer.

Artur sentiu algo em seu peito, uma espécie de pontada fraca que o fez levar a mão até ele.

—  Você sente algo aqui, não? O que é? —  Os olhos azuis de Morgana o estudaram.

Ele apontou para frente do túnel.

—  Tem alguma coisa me puxando naquela direção.

A maga bateu com o cajado no chão e este se transformou em uma lança feita de metal dourado.

—  Então deve ser lá que Excalibur te espera e com certeza será lá que Merlim vai estar.

Seguiram em frente por vários metros, sempre seguidos de perto pelos globos de luz. Em determinado momento uma galeria maior se abriu diante deles, um lugar onde um pequeno lago era formado graças a convergência de água de esgoto que vinha de várias partes da cidade. Ali o cheiro de podridão fez Artur engasgar e quando seu pé pisou em um pedaço de osso que era grande demais para pertencer a algum tipo de animal pequeno, ele percebeu que a sujeira não era a única responsável pelo cheiro.

Horrorizado, olhou à sua volta e viu mais ossadas. Sua mente o levou até o cartaz de jovem desaparecido colado no ônibus.

—  Artur? —  A voz assustada de Carol o tirou de seu transe.

Ele a localizou flutuando bem acima do lago de sujeira. Era uma visão bem esquisita e ela também não parecia nada confortável com a situação na qual se encontrava.

—  O que você faz…? — Ele começou a perguntar, mas foi interrompido.

—  Abaixe-se! —  Morgana pulou sobre ele.

Uma espada enorme passou assobiando acima de suas cabeças e Artur a ouviu acertar a parede e romper o concreto. Um vulto enorme saiu de dentro do lago e caiu diante dele. Armadura negra e olhos vermelhos animalescos. O monstro de metal tentou prendê-lo em um abraço de urso, mas a lança dourada de Morgana atravessou sua cabeça.

—  UUUURRRRAAAAARRRRRGGGHHH!!! —  O ser grotesco balançou a cabeça e chutou a garota para longe. Depois, arrancou a lança como se aquilo fosse apenas um estorvo.

Artur foi ignorado pelo guerreiro de olhos vermelhos que correu com tudo na direção de Morgana. A garota estava indefesa e era um alvo fácil. Isso até um tênis acertar a cabeça do seu oponente.

— Deixa eles em paz! — Carol gritou enquanto tentava retirar seu outro tênis.

Artur precisou admitir que a coragem e pontaria dela eram excepcionais.

Graças à distração proporcionada, Morgana conseguiu se recobrar, colocou a palma de uma mão no chão e gritou.

—  Grinhyur Daer!

Após as palavras da maga, o chão abaixo dos pés de seu alvo se transformou em líquido e metade dele foi completamente absorvido. A criatura tentou se libertar, sem sucesso. Frustrado, arremessou a lança contra Morgana. Ela apenas riu e abriu a mão para receber sua arma de volta, que pousou com obediência em suas mãos. A guerreira ergueu a lança e depois apontou na direção do cavaleiro de olhos vermelhos.

No entanto, Artur não soube o que ela iria fazer a seguir porque um raio azul a acertou pelas costas. Morgana gritou e caiu de joelhos, sua lança rolou para longe. Tentáculos feitos de concreto surgiram do chão e a prenderam no lugar.

Do interior de outro túnel, a última pessoa que ele esperava ver ali deu as caras.

— Olá garoto, bom te ver. Péssima situação, admito, mas é sempre bom te ver. — Zig disse e sorriu para todo mundo.


Parte 6: De cara com Merlin

Pensando bem, Artur decidiu, a presença de Zig ali não deveria tê-lo surpreendido tanto. A obsessão do velho artista pelos mitos de Camelot pareciam torná-lo a pessoa mais provável para ser Merlin. E ele não tinha dúvidas de que Zig era, na verdade, o Merlin que se escondia no mundo dos despertos.

Claro, vê-lo disparar outro raio na direção de Morgana para deixá-la inconsciente colaborou com sua tese. Outra teoria também ganhou sentido na mente dele ao associar o artista de rua esquisito com as ossadas que via no chão.

—  Você é Whitechapel? Foi você quem sumiu com todos aqueles garotos?

—  Sonhos precisam de energia vital para se manter no mundo dos despertos. —  Zig deu de ombros, sua voz sem um pingo de remorso. —  A maior parte de nós não tem coragem para usar a magia de absorção de energia espiritual, mas nunca fui tão puritano quanto Morgana ou as feiticeiras de Avalon.

Então ele riu e chutou a maga inconsciente.

—  Se ela tivesse roubado um pouco da sua energia, talvez não teria sido tão fácil pegá-la de surpresa. Só precisei criar uma distração.

Merlin bateu palmas e a prisão aquosa que mantinha o enorme cavaleiro de olhos vermelhos preso o cuspiu para fora.

—  Demorei para te encontrar e planejava fazer isto com mais calma, mas Morgana estragou tudo quando te levou ao sonhar para revelar a verdade. Creio que teremos que fazer as coisas do modo difícil desta vez.

Artur sentiu vontade de acertar Merlim com sua muleta, mas sabia que estava em desvantagem. Precisava comprar tempo, sua esperança seria Morgana tirar alguma carta da manga para salvá-los.

—  O que você quer com a gente? —  Carol gritou.

Zig estalou os dedos e Artur viu a amiga fechar os olhos e ficar quieta.

—  O que fez com ela? —  Desta vez ele perdeu o controle e avançou na direção do mago.

O cavaleiro de olhos vermelhos o segurou pelo ombro e o manteve quieto.

—  Apenas a fiz dormir, nada de mal irá lhe acontecer desde que você colabore. —  Merlin disse e o encarou.

Pela primeira vez Artur notou que o velho tinha um olho cinza e o outro verde musgo.

—  O que quer de mim?

—  Excalibur, é claro. —  Merlin respondeu e riu. —  É o que sempre precisei de Artur.

—  Você já tem a espada, sei que a roubou de Avalon.

O velho fez que não com a cabeça e coçou a barba com uma das mãos.

—  Tenho a espada, mas não consigo usar sua magia. Preciso que você a desperte e a entregue nas minhas mãos.

Então, batendo no chão com seu cajado de madeira, Merlin fez uma rocha surgir do interior do concreto. A pedra tinha o tamanho de uma mesa e no seu topo, cravada nela, estava Excalibur.

Artur já tinha visto essa imagem dezenas de vezes nas histórias que lia, mas nada fazia juz a belíssima espada diante de seus olhos. Sua lâmina brilhava como a mais pura prata. A manopla era simples, mas adornada com pedras preciosas que jamais vira na vida. Ele sabia o que vinha a seguir.

— Aqui no mundo desperto cabe a você retirar a espada da pedra, Artur. Faça isso, desperte Excalibur e seu poder e eu juro que liberto Carol e deixo você e ela irem embora.

—  E quanto a Morgana?

—  Ela não faz parte da barganha. —  O velho mago foi categórico.

—  E se a espada não me obedecer? Vai me matar também? Vai matar a Carol?

Merlin sorriu, quase como um avô que conta uma história de dormir para seu pequeno neto.

—  Excalibur vai te obedecer, ela é sempre aquilo que você precisa. Basta que seu desejo seja…

—  Forte e verdadeiro. —  Artur o interrompeu. —  Já ouvi isso antes.

Merlin apontou para a espada e o cavaleiro de olhos vermelhos o libertou.

—  Nesse caso, a escolha é sua Artur. Excalibur por sua vida e a de Carol. O que vai ser?

Como se isso fosse mesmo uma escolha.

Resignado e derrotado, ele caminhou até a pedra. Garantiu sua estabilidade com a muleta e fechou a mão direita na manopla da espada lendária. E nesse momento Excalibur se comunicou com ele.

Sua alma e a energia dela se tornaram uma só. Artur soube, naquele instante, tudo o que Excalibur sempre representou para o rei que a usava no mundo dos sonhos. E ele compreendeu que Excalibur era algo no qual o rei se apoiava, mas nunca algo que o definia.

Excalibur não existia sem um rei Artur, mas Artur sempre seria o rei e líder de seu povo, mesmo sem a espada mágica.

O rei Artur não atendia a vontade de Excalibur, a espada atendia à sua vontade. Nas mãos dele, ela era mais do que uma arma. Excalibur podia ser o que Artur precisava que ela fosse. Ela se transformaria na arma perfeita para derrotar seus inimigos.

Eu compreendo. Sei o que preciso fazer agora.

Respirando fundo, Artur pensou bem no seu desejo e a puxou. Ela saiu do interior da pedra com facilidade e ele se virou para encarar Merlin.

O medo ainda o fazia tremer, mas pelo menos agora tinha a metade de um plano.

—  Minha parte está feita, agora você vai cumprir sua palavra?

O mago se aproximou dele com as mãos estendidas.

—  Tem a minha palavra! Eu jurei, agora me dê a espada!

Ele se concentrou em um único e forte desejo antes de atender a demanda, quando Excalibur emanou uma onda de magia que passou dela para ele, soube que seu desejo seria atendido. Merlin parecia pronto para qualquer tentativa de uma ofensa, mas Artur entregou sua espada sem resistência.

Os olhos díspares do mago brilharam com desejo e ele pegou Excalibur como um homem abraçando um cantil de água depois de passar dias perdido no deserto. E então, Merlin gritou.

No momento em que suas mãos tocaram a espada lendária o corpo do velho tremeu e ele foi ao chão como se estivesse sofrendo uma convulsão.

O cavaleiro de olhos vermelhos rugiu e se virou na direção de Artur. O monstro conseguiu dar dois passos antes de uma explosão dourada o acertar pelas costas. A descarga de energia o atirou para dentro do lago sujo e Morgana levantou do chão com sua lança dourada nas mãos.

— Eu sabia que você iria saber o que fazer no momento certo. —  Ela disse e então disparou outro raio no cavaleiro.

Desta vez a magia dela explodiu a cabeça do monstro de metal e ele desapareceu na água.

Então, dando atenção à Merlin, a maga fez um novo portal surgir e de dentro dele alguns cavaleiros surgiram e o aprisionaram com correntes feitas de ferro. Artur reconheceu os dois homens que o salvaram no começo da noite e um deles lhe fez um aceno com a cabeça como quem diz “bom trabalho”. Em segundos, Merlin e os demais desapareceram.

Morgana usou sua magia para descer Carol. A garota despertou quando seus pés tocaram o chão e ela olhou para Artur com os olhos arregalados.

—  Agora não. —  Ele respondeu as centenas de perguntas que os olhos da amiga lhe dirigiam. Então, olhando para Morgana, guardou Excalibur na bainha e a devolveu à maga. —  Acredito que isto pertença à ilha de Avalon.

—  Ela irá retornar para seu lar. —  Morgana tomou a espada e sorriu.

—  Como você sabia que eu iria descobrir o que fazer?

—  Você é um Artur, o seu tipo sempre sabe o que fazer. Merlin nunca compreendeu a magia que Avalon deu à espada e isso sempre será sua derrota.

Artur quase sentiu pena do velho mago. Ele queria encontrar a resposta para todos seus problemas na lendária arma do rei Artur, mas nunca percebeu que Excalibur nada mais era do que algo no qual alguém podia se apoiar até encontrar suas próprias forças. Assim como sua muleta, Excalibur era apenas uma ferramenta.

Quando compreendeu que poderia pedir que a espada atendesse sua necessidade, o que desejou foi uma arma que pudesse neutralizar a magia de Merlin. O mago estava tão sedento pela magia da espada que nem ao menos notou a armadilha na qual estava caindo.

Morgana se encarregou de levar Artur e Carol de volta ao seu trailer e então, da mesma forma como surgiu na vida dos dois, retornou para o mundo dos sonhos, deixando-os sozinhos para pensar no mundo novo que agora sabiam existir.

— Acho que ela não é fã de despedidas. — Artur comentou quando a maga desapareceu dentro do portal mágico.

—  Parece que não, ela é uma garota prática. — Carol disse, sentando na cama dele. — Você vai ter que me explicar muitas coisas, sabe disso. Certo?

Artur se permitiu cair na cama ao lado dela e então respirou aliviado.

—  Depende, vai me ouvir até o final antes de me chamar de louco?


Parte 7: Eu sou Artur (O garoto com sorte)

Artur contou tudo à Carol, não que ele soubesse de muita coisa, mas falou sobre o que aprendeu com Morgana e contou também sobre sua breve passagem pela ilha de Avalon. Não era uma história longa, mas a garota pediu por todos os detalhes possíveis e também falou sobre os momentos de terror que passou quando pensou que fosse morrer nos esgotos da cidade.

Era de manha quando os dois se despediram e Artur, como bom cavalheiro que era, fez questão de acompanhar a amiga até a porta do prédio onde ela morava.

—  Então te vejo mais tarde na escola? —  Ela deu um soco amigável no ombro dele.

Rindo, ele respondeu.

—  Depois dessa loucura toda quase me esqueci da aula. Será que a diretora Shannon vai me deixar faltar se eu contar que sou uma versão júnior do rei Artur?

Carol riu.

—  Duvido muito. —  Ela disse e então continuou. —  Além do mais, você não pode faltar. Avisaram que alunos com faltas na semana do baile serão proibidos de comparecer à festa. Você é o meu par e eu vou te matar se estragar essa noite.

Artur ficou sem reação e quando seu cérebro finalmente processou o que tinha ouvido ele abriu a boca para responder e foi interrompido por um beijo.

A sensação dos lábios de Carol nos dele faziam a magia de Morgana e de toda a ilha de Avalon parecer truques de festa de criança. Quando a garota se despediu, ele levou as mãos até os lábios e ainda precisou de alguns minutos para perceber que não estava sonhando.

Aquele era o mundo real e ele iria ao baile de inverno com a garota mais linda da escola.

—  Nada mal para um rei Artur mirim, não? —  Disse apenas para si mesmo enquanto caminhava de volta para seu trailer.

Pousados no topo de um prédio na rua, um grupo de corvos olhou para baixo. Um deles, dono de um par de olhos azuis que Artur teria julgado familiares, o estudou por mais tempo do que os demais e então voou para longe.

Voou para a terra dos sonhos.

*** FIM ***


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