Protagonista e antagonista: os pilares da narrativa, sem os quis não existiriam histórias cativantes
Rod Zandonadi
Escrever um livro é uma tarefa fácil, porém não é uma tarefa simples. Quando se entende os fundamentos da criação de uma história, fica fácil desenvolvermos nossos personagens.
Existem inúmeros modelos de fichas de personagens na internet que podemos usar como referência para anotarmos características físicas e emocionais, gostos, hobbies e outros fatores importantes para utilizarmos em uma história. Segundo Robert Mckee em seu livro Story, isso se chama caracterização do personagem. Mas não é o personagem em si.
O que marcará nossos leitores são as maneiras que nossos personagens agem e reagem aos eventos da história. As ações e diálogos de nossos personagens são o que nos fazem lembrar deles, muito mais que a cor dos olhos ou a blusa que estava usando em determinada cena.
E se temos que prestar atenção nisso em cada personagem de nossa história, essa atenção precisa ser redobrada com os dois personagens principais: o protagonista e o antagonista.
Neste artigo nós vamos entender quem é o protagonista, e quem é o antagonista de nossa história. Quais são seus papéis, e, porque eles são os personagens mais importantes da nossa narrativa.
Fique comigo neste artigo para aprendermos:
- Quem é o protagonista
- O papel do protagonista
- O que é uma força antagonista
- Quem pode representar a força antagonista
- Diferença entre vilão e antagonista
Quem é o protagonista
O protagonista é o personagem principal da história. É aquele personagem que quer alcançar o objetivo principal da trama, e todos os acontecimentos da história giram ao redor disso.
O protagonista normalmente é apresentado em seu mundo comum, em seu dia a dia. Mesmo que ele não saiba, existe algo que falta nele.
Por exemplo, Harry Potter sempre se sentiu diferente, com coisas estranhas acontecendo com ele. Ele não fazia ideia de que magia existia, muito menos que ele era um bruxo. Mas quando ele descobre Hogwarts, parece que finalmente as coisas passam a fazer sentido.
O papel do protagonista
O protagonista carrega a história nas costas. Para que a trama seja envolvente, ele precisa ser um personagem ativo, que toma decisões (boas e ruins) frente aos conflitos que surgem em sua rotina no mundo comum, e no mundo especial em que ele é lançado para que a história flua.
Algo interessante a ressaltar: quando o personagem escolhe entrar no mundo especial, a trama fica muito mais envolvente.
Percy Jackson descobre o mundo de deuses e monstros no livro O Ladrão de Raios. Quando lhe é dada a opção de entrar em uma missão onde ele atravessará os Estados Unidos para recuperar o raio roubado de Zeus, e ele aceita, sela seu destino.
Todas as coisas que acontecem com Percy e seus amigos, durante a jornada, são consequências dessa escolha. Porém, Percy tem um objetivo interno para alcançar. E isso faz diferença entre desistir e continuar.
Objetivo interno do protagonista
O objetivo interno do protagonista é tão importante quanto o objetivo externo. Por mais que ele fique em menor evidência, esse objetivo guia o personagem principal. Cada escolha que ele faz, tem esse objetivo por trás.
Em O Ladrão de Raios, Percy tem a missão de encontrar o raio de Zeus. Segundo seu mentor Quíron, o responsável pelo roubo é o deus Hades. Quando Percy embarca na missão, seu objetivo secreto é salvar sua mãe, que foi levada para o mundo interior.
No começo da jornada, Percy não se importa muito com a destruição iminente do mundo, consequência de uma guerra entre os deuses. Ele odeia seu pai, por abandonar sua mãe e ele. Mas conforme ele enfrenta seus desafios, vai tomando razão da proporção da situação que uma guerra como essa traria.
Quando tem a chance de salvar sua mãe, Percy pensa nos valores que ela lhe passou. Esses valores, somados à sua experiência e às amizades que ele criou, o transformaram. Ele não é apenas Percy Jackson, um garoto rebelde. Ele é alguém que escolhe tomar a decisão certa, por mais que isso o destrua por dentro.
Dica extra: coloque seu personagem em uma encruzilhada
Para trazer ainda mais tensão para a história, faça duas perguntas para seu personagem: o que é a coisa mais importante do mundo para você? Agora responda: tirando sua primeira opção, o que é a coisa mais importante do mundo para você?
Tendo as duas respostas, faça seu personagem escolher entre as duas.
Sim, simples assim. A única coisa é que o leitor precisa saber que essas duas coisas são realmente importantes para seu personagem. Isso tem que estar bem claro na hora em que a decisão for apresentada para seu protagonista.
Em A Pirâmide Vermelha, primeiro livro da trilogia As Crônicas dos Kane, Sadie Kane se vê em uma situação onde precisa escolher entre salvar o mundo e salvar seu pai.
A situação não é tão simples. Sadie vê o pai duas vezes por ano. Eles não têm praticamente nada em comum. Mas é seu pai, e ela o ama. Assim como ama um mundo que não está devastado.
Essa decisão mostra quem o personagem é realmente. Quais são seus valores.
Você e eu no lugar dela, teríamos nossos próprios pesos para medir o que é importante.
E por mais que, a primeira vista, qualquer pessoa diga que salvar o mundo é importante, se imagine segurando a esperança da humanidade em uma mão, e a vida da pessoa que você mais ama na outra, na beira do precipício.
Quem você soltaria, se pudesse salvar apenas um?
Nenhuma das escolhas está errada. Você só precisa escolher o que importa mais para você. E arcar com as consequências dessa escolha.
Entendeu porque isso traz peso para uma narrativa? O leitor se vê escolhendo com o protagonista, ou discordando de sua decisão. Faz com que ele se aprofunde na vida do personagem e na trama, o envolvendo na história.
O que é uma força antagonista
Agora que entendemos que o protagonista é o personagem principal, e que ele busca alcançar o objetivo principal da história, vamos falar do antagonista.
Ao contrário do que muitos pensam, o antagonista não é um arquétipo de personagem. Ele é uma força.
A força antagonista é aquilo que vai contra o personagem alcançar seu objetivo.
Em Caçadores de Bruxas, primeiro livro da série Dragões de Éter, o objetivo dos protagonistas é impedir que o reino de Arzalum seja invadido por uma aliança de bruxas, ladrões e piratas. A força antagonista é essa aliança que anseia destruir o maior dos reinos de Nova Ether.
Em Chapeuzinho Vermelho, a força antagonista é o lobo, que quer devorar a Chapeuzinho, impedindo assim que ela alcance seu objetivo: levar a cesta de doces para sua avó.
Algo que achei interessante, mencionado pela Wlange do canal Ficçomos foi que o herói existe por causa do antagonista, e não o contrário. Seu protagonista decide sair do mundo comum e entrar no mundo especial, ou seja, embarcar na jornada para alcançar o objetivo principal, porque o antagonista existe.
Katniss Everdeen tomou a decisão de se voluntariar para os Jogos Vorazes graças à existência da força antagonista: o Império. Se o Império não existisse com as leis sobre os tributos, a irmã de Katniss não seria escolhida como tributo e Katniss não precisaria se voluntariar em seu lugar.
Quem pode representar a força antagonista
Como vimos, a força antagonista é qualquer força que impeça o protagonista de alcançar seu objetivo.
Essa força pode ser um império, como o Império Tsuruanni na saga Mago. Ou um grupo de bruxos que acreditam que apenas os bruxos puro sangue tem direito de praticar magia, como em Harry Potter.
Em ambos os exemplos, essa força pode ser representada por indivíduos.
Em Mago – Mestre, vemos que os tsuruanni que planejam invadir o mundo de Pug, o protagonista, são uma facção chamada de Facção Bélica, e que eles almejam riquezas que não existem no mundo deles, como metais preciosos.
Em Harry Potter e a Pedra Filosofal, vemos o preconceito dos bruxos que se dizem puro sangue, em Dracco Malfoy e nos demais alunos da casa Sonserina. Nos outros livros é mostrado como esse preconceito permeia todo o mundo bruxo, causando uma divisão na sociedade bruxa.
Diferença entre vilão e antagonista
O vilão é o oposto do herói. É uma fonte de conflito sempre que heróis e vilão se encontram.
Por vezes ele é a sombra do herói, visto que tiveram sofrimentos semelhantes no passado, mas tomaram rumos diferentes.
Cristopher Vogler inclusive atrela o arquétipo de vilão ao arquétipo Sombra. Em seu livro A Jornada do Escritor, ele ressalta que a face negativa da Sombra nas histórias é projetada nos personagens que chamamos de vilões, antagonistas ou inimigos. Vilões e inimigos, em geral, dedicam-se à morte, destruição ou derrota do herói. Antagonistas podem não ser tao hostis – podem ser Aliados que estão atrás do mesmo objetivo, mas que discordam das táticas do herói. Antagonistas e heróis em conflito são como cavalos em uma parelha puxando em direções opostas, enquanto vilões e heróis em conflito são como trens em rota de colisão.
Dracco Malfoy é o oposto de Harry Potter, um arquétipo de Sombra. Os dois mal conseguem se encontrar sem se desafiarem ou provocarem. A simples existência de Dracco parece enojar Harry, e tudo de ruim que acontece em Hogwarts, Dracco é o primeiro suspeito dele.
Gollum é um antagonista de Froddo em O Senhor dos Anéis. Ele deseja o anel assim como o hobbit. Porém, Gollum foi dominado pelo poder do anel, e está sob sua total influência, enquanto Froddo luta desesperadamente contra o controle do artefato mágico. Eles conseguem trabalhar juntos por um tempo, mas a maneira como ambos veem a vida faz com que suas escolhas os separem no modo de ver o mundo.
Conclusão
Se você desenvolver bem seu protagonista e sua força antagonista, sua história está no caminho certo. Eles são a força central da sua trama. Quanto melhor você souber sobre eles, melhor você conhecerá sua história.
Abaixo estão os livros que citei no artigo, caso você queira adquirir:
Se tiver mais dúvidas sobre desenvolvimento de personagens, me conta nos comentários. Assim aprendemos juntos.
E se não for pedir muito, envie esse material para um amigo ou colega que escreve ou tem vontade de escrever seu próprio livro. Nos ajuda bastante, e vai ajudá-lo também.
Eu acho que gasto muito mais tempo pensando no antagonista do que nos meus protagonistas ahahaha
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kkkkk
Entendo totalmente. É muito bom trabalhar na força antagonista. Também gera muito material bacana para spin offs e contos.
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