Reyna encostou no bar e olhou para o homem enorme de cabelos e barba ruiva de pé ao seu lado. Ele não estava de bom humor. Em outros tempos, ela teria considerado aquilo um motivo para acionar reforços, mas Thor havia feito um voto de pacifismo dez anos atrás e levava sua palavra muito a sério.
— O que pode me contar sobre o que aconteceu esta noite? Ele esteve mesmo aqui? — Ela acendeu um cigarro e ofereceu outro ao Deus do Trovão.
Olhando com nojo para o cigarro, Thor recusou.
— Você devia parar com isso, Reyna. — O olhar de desaprovação dele chegava a ser um tanto cômico. Pelo menos para quem o conhecia de outros carnavais. — O câncer pode até não matar valquírias, mas ainda é uma doença horrível.
— Agradeço a preocupação, mas o que pode me dizer sobre o que aconteceu aqui?
Thor respirou fundo e apontou para o martelo de batalha em cima do pequeno palco de stand-up do bar.
— Seu amigo chegou aqui junto de Hermes, Dionísio, Loki e um daqueles caras da velha Mesopotâmia, nem lembro mais o nome do sujeito. Eles estavam mais bêbados do que Jesus depois daquela coisa com a água virando vinho.
A valquíria suspirou, imaginando a cena.
— Deixa eu adivinhar: o velho Nicolas tentou levantar seu martelo.
— Claro que tentou. — Thor bufou e começou a organizar um pouco da bagunça. O Deus levantou algumas mesas queimadas como se fossem feitas de papel e começou a juntar os estragos em um canto do salão. — Bom, depois de algumas horas sendo ridicularizado por todos que o viam tentar erguer o Mjolnir, consegue imaginar a próxima burrice da noite?
Conhecendo o velho Nicolas, Reyna nem tentou adivinhar. O “bom velhinho” era famoso por surpreender quando o assunto era criar confusão.
— O cara deu um soco na minha cara só para ver se eu ia quebrar o meu voto!
Olhando para o rosto de Thor, ela ficou muito feliz por ele ter se transformado em um sujeito paciente. Diziam que a Segunda Guerra Mundial mexera demais com ele e que isso o convencera a mudar seu estilo de vida. Claro, aquilo era só um dos diversos palpites sobre o voto de pacifismo do Deus do Trovão. Ninguém sabia a verdade e ela não estava disposta a tocar naquele assunto.
— Eu relevei a idiotice dele e estava dando a volta no bar para colocá-lo para fora quando o imbecil fez algo ainda mais estúpido!
— O que pode ser mais idiota do que dar um soco no poderoso Thor? — Aquela história começava a deixá-la preocupada, e Reyna esperou pela resposta.
Thor apontou para alguns pontos do bar que ainda estavam em chamas.
— A Pele estava aqui esta noite para se apresentar na noite de piadas. O velho Nick resolveu comprar briga com ela e… Bom, olhe ao seu redor, sei que pode imaginar o que aconteceu depois.
Amaldiçoando seu azar, a valquíria se perguntou se realmente valia a pena trabalhar para o Polo Norte, garantindo a segurança do Papai Noel. Claramente aquela seria uma noite longa, e faltavam apenas sete horas para o Natal.
— Quando me ligou, você disse que tinha uma boa e uma má notícia. — Reyna tragou o resto de seu cigarro. Ela considerou fumar outro, mas algo nos olhos de Thor a fez abandonar a ideia.
— A boa notícia é que convenci Pele a não matar o Nick. Ele está lá no estoque de bebidas, ainda inconsciente.
Surpresa, Reyna começou a andar na direção dos fundos do bar.
— Ele está aqui?! — Aliviada, ela até começou a pensar que ainda poderia ter uma chance de salvar o Natal. — Isso é uma boa notícia de verdade. Mas qual é a má?
Olhando para ela com a expressão de quem acabou de descobrir que algum idiota resolveu inventar outro fim de mundo divino, Thor respondeu:
— A Pele levou as renas com ela e eu acho que você vai ter uma noite terrível se pretende resgatá-las.
Sensacional. Aquilo era simplesmente perfeito. Não tinha como aquela noite de Natal ficar melhor. Reyna só precisava lidar com um Papai Noel de ressaca e, provavelmente, com alguns ossos quebrados, e depois teria que convencer a deusa do fogo e dos vulcões a devolver as renas voadoras.
Moleza.
— Sabe, Thor? Às vezes eu sinto falta das confusões nas quais o seu pai nos metia.
— Eu também, mas espero que você consiga salvar o Natal este ano. — Thor riu e deu um tapa amigável em seu ombro, tentando animar seu espírito imortal. — O velho Nick me prometeu uma cabra voadora nova e eu odeio ficar sem meus presentes.
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