Jackie puxou sua faca de fibra de carbono e decepou a mão direita do capanga à sua direita. Antes mesmo de ele entender o que havia acontecido, ela já estava em cima do segundo membro das Caveiras Verdes. Um golpe rápido abriu a garganta do sujeito e, em menos de dez segundos, a gangue tinha dois homens a menos.
Na pequena sala onde se encontrava cercada por vinte inimigos, aquele lhe pareceu um ótimo começo. Finalmente, o grito do primeiro homem que ela atacou despertou o instinto de sobrevivência dos outros, e as armas foram engatilhadas. O pequeno apartamento logo virou um inferno.
Jackie deixou um pouco de sua magia percorrer o corpo e, invocando sua velocidade aprimorada, arremessou a faca na cabeça de um deles. Em seguida, sacou suas duas pistolas de mira automática. As balas explodiram a perna de um sujeito gordo de pele muito rosa e a cabeça de outro imbecil qualquer que estava logo atrás. Ao se agachar, a mercenária invocou uma das poucas magias não ofensivas que conhecia, e uma névoa densa tomou conta da sala.
Com um comando mental, os dispositivos em suas ombreiras dispararam os spikes instalados. Os dardos em si não eram armas impressionantes, mas o veneno paralisante neles, sim. Ela nem parou para ver quantos haviam sido atingidos pelas pontas venenosas; correu para trás de um sofá e esperou.
Tiros voaram sem destino certo, e os Caveiras Verdes só conseguiram matar uns aos outros.
— Parem de atirar! — um deles gritou com um claro tom de autoridade.
Jackie riu e atirou na direção da voz do líder. Ouviu com satisfação o seu berro de dor. Ajustando suas lentes de visão infravermelha, ela deixou a cobertura do esconderijo e pôs fim à vida dos inimigos, deixando apenas um sobrevivente.
Com um comando mental, a névoa mágica começou a se dissipar. Ela parou de pé em frente ao homem, que urinava nas próprias calças.
— Vocês roubaram o cartão de sonho digital de um velho que vive na Rua 17 do Centro Velho — disse ela, pressionando o cano da arma contra a testa do homem. — Eu quero esse cartão. Agora.
Ainda tremendo, ele apontou para uma pilha de caixas atrás dela, onde vários cartões de sonhos podiam ser vistos.
— Acho que… ainda está na caixa dos que precisamos resetar.
— Pelo seu próprio bem, acho bom que esteja mesmo — Jackie disse, empurrando o homem até lá com um chute.
Em poucos minutos, o sujeito revirou o conteúdo de algumas caixas até encontrar o que ela buscava. Jackie guardou o cartão no bolso da calça e agradeceu ao Caveira Verde com uma coronhada violenta. Acordar com uma enxaqueca ainda era melhor do que levar um tiro na cabeça.
Uma hora depois, Jackie estava de volta ao Centro Velho, o lugar que chamava de lar. Aquelas eram suas ruas e os habitantes dali eram sua gente.
— Aqui está, Don — disse, agachando-se ao lado de um velho deitado sobre um papelão. Ela encaixou o cartão de sonhos digitais nas lentes virtuais que o homem usava.
Don nem pareceu notar sua presença. Sua única reação foi um sorriso calmo quando sua mente voltou a ser bombardeada pelas imagens do cartão.
Viciados em sonhos digitais eram casos tristes; não tinham nada além das fantasias onde preferiam viver. Mas em um mundo assolado por um vírus letal que exterminava a humanidade desde 2020, com guerras nucleares desenfreadas, fome e desespero, quem iria preferir ficar desperto? A realidade de 2030 era um lugar horrível, e Jackie quase conseguia entender por que Don havia desistido do mundo real.
Quase.
Ela era uma mercenária e sobrevivente. Sabia que jamais se sujeitaria a um vício tão cruel, mas estava nas ruas há tempo suficiente para não julgar quem abria mão de suas virtudes para suportar a existência.
Don balbuciou um “obrigado” quando ela se levantou. Jackie aceitou o agradecimento, mesmo sem saber se o velho falava com ela ou com alguma ilusão de sua mente.
— Bons sonhos, Don — disse, deixando-o para trás junto a uma sacola plástica com alguns sanduíches. — A gente se vê por aí. Eu espero.
As Caveiras Verdes viriam atrás dela; eram idiotas o suficiente para isso. Mas nas ruas do Centro Velho, um mercenário cuidava do outro, e eles aprenderiam logo a dimensão do seu erro.
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