Apesar de ser quase dez da noite, o parque St. Patrick ainda tinha muitas pessoas em seu interior. Entusiastas de maratonas que treinavam àquela hora da noite por falta de um melhor horário, casais, donos de cachorros e, é claro, pessoas que dormiam ali por falta de um lugar melhor para chamar de lar.
Jon não se importou com as testemunhas, nenhuma delas podia vê-lo de qualquer forma. Uma das vantagens de ser um cupido, ninguém sem dons sobrenaturais reparava no esquisito com um arco e flecha com ponta de coração.
— Ok, Vanessa… fica parada só um pouquinho e logo terminamos com isto. — O cupido murmurou para si enquanto puxava a corda de sua arma, mirando sua flecha para acertar o ombro direito de seu alvo.
Ele desenvolvera há muitos anos o hábito de falar sozinho. Desvantagens de ser um Cupido, ninguém sem dons sobrenaturais reparava no esquisito com um arco e flecha com ponta de coração.
— Um tiro limpo, depois eu vou para casa e você vai falar com o Charles. Não acredito que você não se tocou que ele só vem passear com o cachorro a essa hora para ter uma chance de te ver. Esquisito? Com certeza, mas não sou eu quem decide o Match dos casais na terra.
A flecha de Jon partiu para seu destino, ele sabia que havia acertado antes mesmo de soltar a corda do arco. Só que alguma coisa se meteu em seu caminho.
Outra flecha, que poderia ser idêntica à sua não fosse o fato de sua haste estar pintada completamente de preto, acertou a dele antes dela acertar o alvo.
— Mas que merda foi essaAAARRRrrrgh! — Sua reclamação foi interrompida por dois novos disparos.
Duas flechas o acertaram precisamente, uma em seu joelho esquerdo e a outra no ombro direito. O cupido foi ao chão, deixando seu próprio arco escapar de suas mãos.
Jon ouviu o som dos passos de alguém se aproximando dele.
— Qualquer um com o mínimo de empatia sabe que o Charles é um babaca. Eu não conheço a Vanessa, mas tenho certeza de que ela merece algo melhor. — Quem disse isso foi um homem de cabelos castanhos curtos, pele morena e olhos violetas.
O sujeito vestia uma jaqueta de couro e jeans com joelhos rasgados. O corte de cabelo estilo militar e a barba por fazer lhe conferia um ar de badboy que Jon achou bem charmoso. Não fosse pelo arco em suas mãos e o fato dele obviamente ser capaz de vê-lo, ele teria pensado que se tratava apenas de outro humano passeando pelo parque.
O cupido sentou e tentou ignorar a dor de seus ferimentos.
— Quem diabos é você? — Perguntou, tentando ganhar algum tempo enquanto considerava as opções que tinha para sair dali.
— As duas flechas com ponta de coração que cravei em você não te deram nenhuma pista? — O outro riu.
Olhando bem para o rosto de seu interlocutor, Jon se lembrou de uma lenda urbana que alguns cupidos vinham espalhando. Ele nunca acreditara nelas, quem acreditaria na história do “Anti-cupido”? Um cupido rebelde que se negava a espalhar o amor? A ideia era simplesmente idiota demais.
O Cupido original era um chefe exigente e não tratava bem subalternos que falhavam em suas missões. O que ele faria com um que se recusa a fazer o trabalho? Jon nem gostava de pensar no assunto.
No entanto, só de olhar para aquele homem estranho com seu arco e flechas negras… Só podia ser ele, o Anti-cupido.
Jon não era pago para lutar contra cupido doidos. Em sua atual situação, sair correndo não era uma opção, mas ele sempre podia usar sua…
— Se estiver cogitando usar seu portal portátil para escapar rumo a alguma outra dimensão, pode esquecer. — O Anti-cupido disse, exibindo uma pequena esfera prateada entre seus dedos. — Eu a peguei de você quando nos esbarramos na entrada do parque. Devia ter mais cuidado com as suas coisas, amigo.
Jon ficou sem palavras. Maluco ou não, aquele maldito sabia de todos os truques dos cupidos.
— Cara, se é quem eu acho que é… percebe que está cometendo um grave erro, não? — Ele tentou ficar de pé, mas não conseguiu. — O chefe vai acabar com a sua raça. Não somos imortais, sabe disso não?
— Ah, eu sei disso sim. — Anti-cupido riu de novo. — Também sei o medo que todos têm do Cupido original, já que ele era o único que sabe como destruir um de nós para sempre.
Com algum esforço, Jon finalmente se pôs de pé, então percebeu algo no que Anti-cupido lhe dissera.
— Como assim era o único que…? — Ele parou de falar ao sentir a mão de seu inimigo fechar ao redor de seu pescoço.
No momento em que o Anti-cupido o tocou, algo perturbador aconteceu. Jon sentiu suas forças o abandonarem e o mundo todo pareceu girar sem parar.
— Nada pessoal, garoto. — Anti-cupido sussurrou bem perto de seu ouvido. — Eu só preciso deixar bem claro para o chefe que não vou parar até que ele decida sair para brincar comigo. Sinto muito, mas você precisa ser a minha mensagem.
O corpo de Jon caiu no chão frio do parque. Sentindo sua existência imortal se esvair aos poucos, a última coisa que ele viu foi o Anti-cupido caminhando para longe dele e desaparecendo como se fosse apenas uma miragem.
Ou um pesadelo.
Para Jon, aquele cara parecia muito mais um pesadelo. Um do qual ele nunca mais iria acordar.
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