A motoqueira exorcista

Não era seguro correr na pista I-67. A velha estrada cheia de buracos era conhecida como a trilha da morte.

Lena não tinha medo. Ela não se importava com a morte. Para falar a verdade, estava ali por causa dela.

A barba do sujeito ao seu lado era tão grande que parte dela escapava por baixo do capacete que lhe escondia a face. Ao vê-la, ele riu alto.

— Acha mesmo que uma pirralha como você vai me vencer? Já derrotei caras que podiam ser o seu pai, garota.

— Pena que hoje é comigo que vai correr. — Lena respondeu sem se deixar afetar pelos comentários do oponente. — Quer que peça para os velhotes com os quais você normalmente disputa para que eles te esperem na linha de chegada? Deve ser chato voltar para o asilo sozinho tão tarde da noite.

A luz da lua refletiu no visor de seu capacete quando ela o colocou na cabeça sem nem dar atenção à resposta revoltada do barbudo.

Alguém disparou com uma pistola para o alto e os motores das motos ganharam vida. Era hora de deixar os veículos falarem por seus pilotos.

Lena passou pela linha de chegada com muito tempo de folga à frente do concorrente e a plateia a recebeu com gritos de vitória que se transformaram em risadas quando o barbudo estacionou ao lado dela.

— Eu nunca perdi uma antes…

Lena quase sentiu pena dele.

Quase.

— Sei, mas acontece com todo mundo, grandão. — Ela lhe deu um tapa amigável nas costas. — Se chama estatistíca.

Ele retirou o capacete e a encarou com seu rosto cadavérico. Um de seus olhos estava completamente esmagado e o maxilar estava torto.

A visão nem ao menos fez Lena tremer. Ela pilotava com almas de pilotos mortos a quase três anos. Ele era só mais uma vítima da estrada I-67.

— Hora de ir embora? — O homem perguntou.

— Já passou da hora, garotão. — Ela respondeu e sorriu.

— Bom, trato é trato, não? Você me derrotou e agora eu vou para casa. — O barbudo olhou para o fim da estrada e tremeu. — Seja lá onde “casa” for.

Ele deu partida na moto, mas antes de partir ela o chamou.

— Não esqueça da outra parte do nosso trato.

— Sei, pode deixar. — O motoqueiro respondeu. — Se eu ver sua namorada do outro lado vou lhe dizer que você ainda espera pelo dia que ela virá correr ao seu lado.

E assim, sem mais e nem menos, o barbudo se foi. Lena respirou fundo e olhou a sua volta. A plateia de fantasmas também se fora.

Eles voltariam outra noite, assim como ela. Sua última corrida seria aquela na qual libertaria a alma de Ayla.

A ex-namorada não poderia evitá-la para sempre. Um dia o orgulho a faria aceitar seu desafio e nesse dia derrotar a garota que amava iria libertá-la.


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2 comentários em “A motoqueira exorcista

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